terça-feira, 7 de abril de 2009

Trecho em Obras

fotos: Verônica Fabrini


2009. Primeiro segundo trabalho... fato, agora que nos reconheceremos em pesquisa e proposta... filhos do sapato sujo e dos albergues, porém em movimento. Trecho novo de estrada. Afinal, a escolha por habitar o trecho inviabiliza estacionamentos.
Agora a escolha por um espaço em teoria mais móvel, afinal, um espaço público e não uma instituição. A princípio soou-nos mais fácil, mas diante dele, do Largo de Santa Cecília, em muito reverberou-nos o desamparo... Pois que a cidade em toda a sua arquitetura impositiva, em seus ritmos decisivos e direções apontadas não parece oferecer-se ao jogo e nós temos que lidar com a condição patética de corpos frágeis em busca de poesia para além da lógica...

Afinal aquele espaço... aquele Largo... Uma igreja gigante, senhora em magestade, oferecendo sombra aos corpos não objetivados (aqueles que sem querer ou poder seguir rumos, se oferecem ás calçadas)... impondo-se em altura e grades, em pedidos de silêncio e respeito, oferecendo um outro tempo ao espaço, a igreja... que por horas parece belo e dilatado e por horas parece tedioso e morto... O Metrô logo adiante, manada de gentes em no fluxo digestivo do grande intestino metálico de São Paulo, intestino que direciona os rumos... Mais adiante o terminal de ônibus... entrada nas grandes e imensas lêsmas urbânas, espaço que antecede a trava-trânsito, o percurso que sempre se quer anular o mais rápido possível - o caminho se torna insuportável e enrigecido aos acontecimentos, espera-se sempre o ponto final a se chegar... Ainda mais adiante, enfim, o minhocão, real cartão postal de São Paulo, imensa placa de concreto que viabiliza o andar das máquinas e inviabiliza a vida humana (os moradores dos prédios ao redor nunca abrem ou saem das janelas por causa do barulho e da sujeira que os carros fabricam em sua casa...



Percebemos que não se trata exatamente e apenas de rasgar o cotidiano do mundo exterior. Mas do mundo interior. De nós mesmos. Choque. Choque diante de nós... hiperbolizados em nosso tamanho a princípio pequeno, nos tornamos gigantes em angústias e em necessidades trágicas porque pulsantes, trágicas porque latentes, trágicas por que "indisviáveis" e "inabandonáveis". A presença de nós mesmos. A plenitude de olhar o limite como um convite a nós mesmos de provar-nos enquanto guerreiros de nós mesmos... e não mais permitir a lamentação e a visão do mundo exterior como mal e como algo que nos impossibilita - quebra quebra nos padrões de ressentimento - mas, sim, a visão de um mundo exterior como algo que nos alimenta e nos impele à uma força de presença cada vez maior. Estar no movimento e não na morada. Estar no acontecimento e não no acontecido... Trecho. Trecho. Trecho.
Não é simples ou fácil. Porque é difícil não estacionar... a estrada não tem conforto. E a potência do movimento apavora... Porque exige tabém o não reconhecimento do mundo exterior. E exige andar com a sombra exposta ao lado.
E nós jovens, começando rumos, corremos o risco de quebrar nossa escolha de jogar junto do tanto que se escancararam as intimidades... pequenas necessidades de um e de outro...a impossibilidade de sermos os mesmos... Crise.

Afinal... "Contos de Lua no Chão", foi assim que nomeamos o projeto... em busca de um regime lunar no lugar de um regime solar. Como poderíamos esperar facilidade? Pois que a opção por uma luz nublada, no qual não se pode definir os fatos e verdades absolutas, exige um novo corpo, uma nova sensibilidade, um renascimento, um olhar do mundo com uma visão uterina...
E agora, nos reencontrando em nossas diferenças e querendo afirmar e alimentar as nossas diferênças, um agindo para fomentar a potência do outro, começamos de fato a nascer esse grupo, entendendo como irmanar-mos também no desafio e na bela impossibilidade de sermos iguais... pois o que nos une, afinal, é o desejo de rasgarmos a nós mesmos e de encontrar-nos diante de um novo solo... um solo possível, pois esse outro novo corpo, já encontrará no mundo uma nova reverberação... crepuscular.
Abrindo espaço para o fluxo e saída das gentes que desegem aproximar-se ou afastar-se dessa exposição de nós, não apenas ao mundo exterior, mas a nós mesmos.
A crise afinal, parceira e amante, não inimiga, nos arremessa à um intenso mundo de escuta, intensidade e afeto... o não se convertendo em um grande sim e a lua despontando no céu permitindo-nos ver o cada passo... sem que se possa, sem que se necessite ver para onde nos levará esse caminhar.

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