segunda-feira, 19 de julho de 2010

Facas confiscadas. Mulheres desarmadas.
Sabem o que fazer. Devem esfregar, apenas, o chão.
O chão da Paulista, o chão em frente a banco, qualquer chão.

É preciso limpar.

"Desculpa, senhor." "Desculpa, senhor".
Esfregam e se desculpam.
Incessantemente.

É preciso limpar, mesmo que o trabalho não tenha fim.
É preciso trabalhar, mesmo que não haja mais trabalho.

É preciso limpar-se.

É preciso redmir-se.

"Desculpa, senhores."

Até que finalmente lhe anunciem o momento de parar.

Breve intervalo, antes da hora de ter que recomeçar.

"Me dá um cigarro, por favor?"



quinta-feira, 15 de julho de 2010

Valsantes

Cinco mulheres. Uma tocava, outras dançavam. Dançavam a memória, dançavam o feminino. Dançavam a possibilidade da vida entre o concreto dos prédios da Paulista, a possibilidade de abrir os braços e entrever o céu. Dançavam...

E como não?
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim

Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada...

Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim

Ela teimou
E enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som
Dos Bandolins

Sem temer o julgamento dos olhares, e uma vez sem esconder o que a singeleza guarda, caminharam, explicitas, pela cidade.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mapa da Prisão

A necessidade de exteriorizar o que se respira do lado de dentro dos muros. A urgência de vazar...
O que tem significado para cada um de nós entrar (e sair!) todas as semanas na “Penitenciária Feminina do Butantã”? Respostas pessoais encontram eco no no coletivo e são impulso para a ação. Três diferentes olhares geraram as intervenções realizadas na Av. Paulista no último feriado.



qual é a função de um presídio?...


Um mapa é instrumento que demonstra, revela, explicita geografias, funcionamentos, relações e tensões. Como transitar no presídio, esse lugar opaco que a todo tempo nos escapa? Nosso acesso é restrito a uma mínima parte de sua espacialidade, e consequentemente a uma mínima parte das pessoas que têm vivido ali os seus dias. Não nos é dado conhecer todas as regras, pois há aquelas que "não estão escritas em nenhum lugar". Temos autorização de entrar e propor algo, mas as limitações instituicionais estão por toda parte. Que papel representamos ali dentro e quais novos caminhos poderemos traçar?

Mapear para compreender...

Então eis a ação simples proposta ao Grupo do Trecho e aos passantes: desenhar um mapa do presídio, considerando as relações que envolvem e compõem essa realidade, superando a mera geografia, mas sem desconsiderar a questão espacial. E esse mapa será desenhado com giz, na calçada da Av. Paulista, em frente ao parque Trianon.


Sabemos onde começa nosso caminho para dentro dessa instituição, sabemos de nossa busca. Mulher e presa... As duas coisas simultâneamente.

Mas e depois disso? O que sabemos das relações que orientam esse universo, aparentemente tão ausente da realidade "normal" das ruas da cidade?


Sabemos que há um dentro e um fora bem definidos e que há aqueles que atravessam a linha, indo ou vindo, e há os que não fazem isso de maneira alguma, os que se adequam e buscam estar seguros. Mas o que transforma alguém em "inadequado" ao convívio social?... E de que maneira é possível readequar alguém? Ou "ressocializar"...


Quais são os resultados dessa lógica da punição de estrutura punitiva? Pra quê ela serve? Quem lucra? O que acontece a um ser humano em situação de prisão? Como ele se sente o que pensa dia após dia? Como ele é tratado... E o quanto o universo prisional interfere na vida social comum e é interferido por ela?


Quantos entre os que caminham pela Av. Paulista às 15h de uma sexta-feira de feriado conhecem bem o funcionamento um presídio por dentro? Quantos podem ser ex-detentos? Quanto se importam com o assunto? E quantos mal tinham parado pra pensar sobre isso alguma vez na vida? Quantos parariam o que têm a fazer para refletir sobre isso? As respostas nem sempre são óbvias.

Fazendo perguntas, compilando as informações que possuimos, podemos mapear essas relações e traçar estratégias. O mapa "é aberto, é conectável em todas as dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente". Ele foi feito a giz... Ele se amplia. Se complexifica. Um primeiro esboço toma forma e um caminho se aponta. Há que se discutir a questão.

O mapa da prisão mapeia também e muito bem as relações sociais que escolhemos vivenciar ou não na cidade.


terça-feira, 6 de julho de 2010

Performances Anti-Feriado

Um salve aos que aqui nos lêem.
Então, se desejarem nos ver:

SEXTA-FEIRA, DIA 9 DE JULHO, A PARTIR DAS 15H, EM FRENTE AO PARQUE TRIANON, NA AVENIDA PAULISTA, O GRUPO DO TRECHO ESTARÁ DANDO PROSSEGUIMENTO AO PROJETO "AUSÊNCIAS - RESIDÊNCIA ARTÍSTICA NA PENITENCIÁRIA FEMININA DO BUTANTÃ", COM SUBVENÇÃO DO PROGRAMA VAI.
FAREMOS UMA SÉRIE DE TRÊS PERFORMANCES, SOB OS TEMAS DO FEMININO E DA PRISÃO,INICIANDO NO PARQUE TRIANON E PROSSEGUINDO PELA AVENIDA PAULISTA, ATÉ A ESQUINA COM A RUA AUGUSTA. A PREVISÃO DE DURAÇÃO DAS PERFORMANCES É ATÉ AS 19HS.


FICAREMOS FELIZES SE VIEREM PARA NOS INDAGAR E COMPARTILHAR