terça-feira, 7 de julho de 2009

Depoimento...

Depoimento de Andrea Krohn, aluna da oficina.





Comecei a procurar aquele espaço através da memória, através do eco de algo. as minhas memorias-sons estão em anexo, vejam se conseguem abrir... primeira tentativa de aproximação com o espaço, em casa, dez horas antes da oficina, debaixo dos lençois, escuro de olhos fechados.
A primeira coisa é pedir licença. licença de estar aqui, viver aqui um tempo. cumprimentar os cantos e os esquecimentos.
ao caminhar, quantas coisas voltam. parece uma onda que vai te engolir.
seguidos dias, metamorfosendo-se em pantera.
experienciar o espaço de olhos vendados, guia. cuida de mim. cuida de mim que não sei para onde vou.
depois, a pantera debaixo do viaduto, e denovo estar sem ver.
matar. correr. meu corpo ninguém toca. ninguém pega.
medo. onibus passando. oprimido o céu pelo concreto fétido.
será que eu confio mesmo nessas pessoas?
depois, ficar sozinha, só o som.
cadê a pantera? cadê aquela força que arrebenta quem te passa o caminho?
para dentro de si, oprimida pela convulsão de informações.
a recente lembrança do assalto, o homem pousando a mão nos meus ombros.
voar para longe, a possibilidade de um pássaro.
será que o conto não se passa ali mesmo debaixo do minhocão?
as vezes não há fronteiras, as histórias vão se somando. A Africa, Sta Cecilia.
As pessoas que passam a viver uma rotina, mesmo que temporária.
lá vem denovo a menina e o giz...
Zona Autista Temporária?
Falar com quem passa ali.
Até que ponto nós somos os passarinheiros? até que ponto não somos as crianças, os colonos?
Andar pelo minhocão vendada "Sequestrada" Até que ponto eu deixo me levar? Limites e preconceitos/conceitos.
a mulher parando para ver... o homem que veio perguntar... o Fuganti pra destruir.

Ah! chega. um monte de imagens... tenho que fotografar.



Lágrimas Mascaradas

Poema escrito por Bianca Villela, aluna da oficina, para sua cena a partir do conto "As Lágrimas de Diamantinha":





Existem lagrimas mascaradas
profundas em cada existência
escondidas por fajutos risos
ou por tristes bocas severas
esquecidas
em soberbas etiquetas
Flobela bem dizia

Calma... refreia essa corrida
cada existência transborda a seu modo,
com seu jugo, seu peso
Não pode ser uma guerra vã
essa coisa de viver

Correr é deixar transbordar
tudo calado
refluindo pra dentro, dolorido
e parar por muito tempo
É acostumar com o sutil afogamento
que parece não sufocar
enquanto reprime sorrateiro

Não chora mansinho assim
dentro d’alma
Não alivia, nem se faz entender

Expande livre esse liquido salgado
Expande como melhor lhe aprouver

Faz de conta que essa enxurrada
ta toda aqui
enfrascada
comprimi

Cada gota de cada jato
Cada letra de cada palavra
É uma forma de desafogar o ser.



Pensando a Oficina "Experimentação de Práticas Poéticas Urbanas"

Dividir potências e pesquisas... abertura para os desejos e vidas de quem vem. E esse grupo encontrado, os alunos, eram, cada um a seu modo, de uma força de atitude e presença intensas, mesmo que suaves, perante ao mundo. E como foi potente observar suas diferentes entregas à rua... afinal, nosso trabalho evidentemente não se exclui ao nosso pequeno mundo, e ele não é unívoco. Assume diferentes faces diante de cada encontro, cada corpo, cada história. A forma como optamos trabalhar com esse grupo, foi de levá-los ao nosso atual estágio, de trabalho direto com a rua, buscando a criação a partir dos espaços e o compartilhamento do processo criativo. Nós ao mesmo tempo dividimos procedimentos e pedimos que nos trouxessem criações individuais e em grupo de ações e/ou cenas performáticas para que déssemos orientações. Santa Cecília ganhou novos jogadores e nós ganhamos novos parceiros, cúmplices e inquisidores. O convite a se experimentar a rua em corpo aberto, num processo que vai desde o máximo silêncio e introspecção à máxima potência de diferenciação, não é simples direto e tranqüilo. Gerador de desejos e crises, nossos encontros pelo que sentimos proporcionaram vida em sua intensidade inquietante. À isso agradecemos à todos... até os próximos encontros, viva!

Aulas...

Vídeo com aulas ministradas pelo elenco do grupo em 2008 e 2009...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Performances...

Vídeo com fotos de performances realizadas pelo grupo desde 2007...

Ensaios!

Vídeo com fotos de ensaios do grupo desde seu princípio em 2007 até 2009...

O Cego Estrelinho

Estar cego diante da rua. Menos eficiente, abrindo aos outros sentidos e não se importando com o reconhecimento. Que a rua me veja como for, já que eu não vejo como ela me vê.
O Cego Estrelinho, em análogo àquele espaço... fantasia contra brutalidade... fantasia e fuga do real apenas pela droga... a pedra que avança da rua Helvétia.
Difícil descrever a trajetória de montagem desse conto. Grácia Navarro nos conduzindo a lidar com as palavras e com a construção da história e nós nos deparando com a experiência de cegar-se e com performances vendadas que nos fragilizaram e fortaleceram ao ponto do não domínio da situação... Santa Cecília se abre a outros olhares... e nós, aos poucos, tentamos transferir todo o nosso ensaio à rua, abolindo a sala de ensaio, buscando entender aos poucos no que implica o processo aberto... e no que implica, abrir-se ao afetar-se para a rua, para que daí venha o estado criativo.
Nesse conto, percebemos, a ficção já coabita com o real. a verdade é que inexiste o estado de normalidade. a rua é insana... e não há como fazer um fantástico abstrato, mas, ao contrário, oq se encontra são os possíveis análogos daquele espaço... oq Santa Cecília grita que se destaca do comum... e nós, ali, procuramos salientar esse descolamento, para que os sentidos se desviem para olhá-lo, e possam pressentir a irrealidade da vida comum.