quarta-feira, 27 de maio de 2009

As Lágrimas de Diamantinha...

fotos: Verônica Fabrini



Diamantinha, sensibilidade perdida e massacrada diante da violência dos corpos urbanos... velocidade de exploração, o marketing da humanidade... o exercício das relações através do comércio. O homem que, endurecendo-se totalmente, não encontra mais em si a sensibilidade e precisa de outro homem que se sensibilize em seu nome. E a mídia cria essas pessoas-ícones-válvulas de escape de uma humanidade solitária e enrigecida.





O conto lírico de Mia Couto diante daquele largo antigo recortado por um minhocão de concreto, transformou uma barraca ao lado de uma árvore, num freak-show sencacionalista e midiático. Diamantinha como válvula de escape de pessoas a beira de um colapso, incapazes de chorar.



Esse foi o primeiro conto trabalhado dentro do projeto "Contos de Lua no Chão", sob orientação e direção de Verônica Fabrini (professora da UNICAMP e diretora da Boa Cia.), que ainda continua em labor e que foi e está sendo desenvolvido através de um processo longo de ensaios, testes de estruturas, performances, happenings, workshops. Sempre trabalhando a partir da idéia de análogo: o que do universo desse conto, pode revelar a dramaturgia do próprio Largo de Santa Cecília?




Nesse sentido, quais pessoas daquele espaço precisam que alguém chore por elas? Qual é imagem dessa "Santa Pop Star" que levaria os outros a requerir suas lágrimas naquele lugar? Qual tipo de comércio de exploração aparece naquele espaço?





Diante disso, trabalhamos jogando com diferentes elementos: os adesivos de prostituição dos orelhões, como marketing; a televisão e a propaganda como veículo legitimador; as barraquinhas de comércio na praça, como formato de venda daquela região; as imagens da igreja, como imagens do sagrado e da procura de salvação pelo sublime; a cracolândia e o comércio de drogas, como busca de sensações novas que quebrem o cotidiano duro e massante através de um artifício...




As experiências desenvolvidas nos levaram a construção de uma pequena célula ainda em desenvolvimento e que ainda deve se transformar a partir do trabalho com os outros contos...





O primeiro resultado aponta os novos encaminhamentos do grupo aprofundando a pesquisa dos limites entre a ficção e o real: um teatro que se dissolve na realidade e uma realidade que se dissolve na ficção.



Reparamos que de qualquer maneira, tanto para nós, quanto para o público, os momentos de maior intensidade e contundência do trabalho ocorrem quando a espetacularidade gera algum tipo de afeto real, de troca efetiva e inesperada entre atores e freqüentadores do largo... Essa sensação nos levou a priorizar os ensaios do trabalho quase todos também abertos, abrindo totalmente o processo ao atravessamento e às interferências exteriores.



Os encontros com Luiz Fuganti, nesse sentido, tem de fato orientado muito os caminhos do grupo, que vem buscando menos a idéia de interferir na realidade cotidiana e mais a idéia de se abrir para que a realidade cotidiana interfira em você.



Dessa maneira, torna-se possível a criação de novos afetos que abram para janelas além dos aprisionamentos cotidianos...



Continuamos rumos...


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