segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Princípio


2007.
O encontro de quatro estudantes de Artes Cênicas da UNICAMP rumo ao seu último semestre e a necessidade da criação de um projeto pessoal, uma pesquisa da qual se quisesse apropriar, um teatro que se quisesse fazer. O encontro dos quatro, veio do comum acordo: não se quer o teatro. O edifício. Se quer, sim, a possibilidade de fluidez dos espaços, não incoporando mecanicamente suas funções.
Antes da função, há a fisicalidade do lugar. E há, especialmente, aqueles que o habitam, que são, enfim, aqueles que tem o poder de dar função a esse lugar.
Havendo algum tipo de acordo, havendo algum tipo de vontade, de ação, pode-se dar ao espaço a liberdade da perda momentânea de sua carga funcional... pode-de criar, frente à realidade, outras realidades possíveis.
Aproveita-se do teatro, a possibilidade do encontro e a possibilidade da criação de um universo ficcional, de um universo outro, distinto da vida cotidiana.
Aproveita-se dos espaços públicos, a idéia de "público" levada literalmente, propondo desviciar os trânsitos.
Os quatro primeiros:
Carolina Nóbrega
Luciano Mendes
Nádia Recioli e
Suellen Leal
Entrando no desconhecido, num passo a passo, frágil, delicado, com a orientação presente e firme de Grácia Navarro, caminhamos por um semestre na descoberta de nossos próprios meios de trânsito.


O trabalho, enfim, começou da escolha do espaço. Afinal, dele e das pessoas que nele se encontrariam, que se desenvolveria o trabalho. O espaço escolhido foi um albergue público de Campinas, o SAMIM (Serviço de Assistência ao Migrante Itinerante e Mendicante), com seu espaço e com as pessoas que o freqüentam. O local fora antigamente uma estação de trem, e o próprio albergue é morada temporária daqueles que lá se hospedam. Diante desse espaço, e de nós em relação a esse espaço, o grupo escolheu como tema para o espetáculo: O ESTRANGEIRO.

Cada ator é um personagem-estrangeiro, e cada ator é em si estrangeiro do lugar que no momento da representação ocupa. Os atores através de diferentes recursos narrativos jogam com as diferentes histórias de cada personagem que se cruzam com as tantas histórias dos espectadores. A peça entrou em cartaz no espaço do próprio albergue, para o qual foi conduzido o público de fora, abrindo espaço para um encontro pouco provável no espaço do cotidiano.

A relação forte com a própria história naquele espaço, unica bagagem que de fato se possui, levou a construção de duplos embonecados, um passado vivo, fantasma companheiro, já embonecado pelo tempo. A necessidade dos bonecos, levou o grupo à Tatiana Burg, que os construiu conosco e, aos poucos, foi dando identidade e identificando-se ao grupo. Artista Plástica e fotógrafa do Trecho, abre caminho para a insistência nas linhas de fronteira, as artes plásticas passam também a constituir eixo fundamental do grupo.

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