quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mapa da Prisão

A necessidade de exteriorizar o que se respira do lado de dentro dos muros. A urgência de vazar...
O que tem significado para cada um de nós entrar (e sair!) todas as semanas na “Penitenciária Feminina do Butantã”? Respostas pessoais encontram eco no no coletivo e são impulso para a ação. Três diferentes olhares geraram as intervenções realizadas na Av. Paulista no último feriado.



qual é a função de um presídio?...


Um mapa é instrumento que demonstra, revela, explicita geografias, funcionamentos, relações e tensões. Como transitar no presídio, esse lugar opaco que a todo tempo nos escapa? Nosso acesso é restrito a uma mínima parte de sua espacialidade, e consequentemente a uma mínima parte das pessoas que têm vivido ali os seus dias. Não nos é dado conhecer todas as regras, pois há aquelas que "não estão escritas em nenhum lugar". Temos autorização de entrar e propor algo, mas as limitações instituicionais estão por toda parte. Que papel representamos ali dentro e quais novos caminhos poderemos traçar?

Mapear para compreender...

Então eis a ação simples proposta ao Grupo do Trecho e aos passantes: desenhar um mapa do presídio, considerando as relações que envolvem e compõem essa realidade, superando a mera geografia, mas sem desconsiderar a questão espacial. E esse mapa será desenhado com giz, na calçada da Av. Paulista, em frente ao parque Trianon.


Sabemos onde começa nosso caminho para dentro dessa instituição, sabemos de nossa busca. Mulher e presa... As duas coisas simultâneamente.

Mas e depois disso? O que sabemos das relações que orientam esse universo, aparentemente tão ausente da realidade "normal" das ruas da cidade?


Sabemos que há um dentro e um fora bem definidos e que há aqueles que atravessam a linha, indo ou vindo, e há os que não fazem isso de maneira alguma, os que se adequam e buscam estar seguros. Mas o que transforma alguém em "inadequado" ao convívio social?... E de que maneira é possível readequar alguém? Ou "ressocializar"...


Quais são os resultados dessa lógica da punição de estrutura punitiva? Pra quê ela serve? Quem lucra? O que acontece a um ser humano em situação de prisão? Como ele se sente o que pensa dia após dia? Como ele é tratado... E o quanto o universo prisional interfere na vida social comum e é interferido por ela?


Quantos entre os que caminham pela Av. Paulista às 15h de uma sexta-feira de feriado conhecem bem o funcionamento um presídio por dentro? Quantos podem ser ex-detentos? Quanto se importam com o assunto? E quantos mal tinham parado pra pensar sobre isso alguma vez na vida? Quantos parariam o que têm a fazer para refletir sobre isso? As respostas nem sempre são óbvias.

Fazendo perguntas, compilando as informações que possuimos, podemos mapear essas relações e traçar estratégias. O mapa "é aberto, é conectável em todas as dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente". Ele foi feito a giz... Ele se amplia. Se complexifica. Um primeiro esboço toma forma e um caminho se aponta. Há que se discutir a questão.

O mapa da prisão mapeia também e muito bem as relações sociais que escolhemos vivenciar ou não na cidade.


Nenhum comentário: