terça-feira, 2 de junho de 2009

Diamantinha eu.

fotos: Verônica Fabrini.

Componho aqui um primeiro relato. Um primeiro relato que parte do primeiro conto e dos primeiros meses desse trabalho... Tenho vivido muito e materializado muito pouco em palavras... talvez os escritos abaixo pareçam um emaranhado confuso... mas sigo para por pra fora um pouco do dentro de mim.


Diamantinha tece um choro que escorre pra fora dela... um choro que não tem a ver com uma dor própria... um choro que sózinho sustenta o mundo, porque ela se oferta em fragilidade e peito aberto: coelho em cova de leões. Destroçada por eles e reerguida também por um deles, um travestido: leão em pele de coelho (aprendendo de se "delicalizar"). 


Eu choro sempre e muito... mas oculto minha doçura e sensibilidade numa armadura macha e preparada... mundo de homens e de mulheres afeitas em homens... pois não se trata de busca de exaltar potências, mas de busca de poder e o poder oferece-se nessas condições masculinas e castradoras do sensível. 



Diamantinha não, ela cura e é percebida porque expõe o peito frágil, expõe a força de qualidade uterina que é a de afetar-se... E essa mesma vem sendo a minha busca, dolorida e potente, de abrir o peito ao mundo... o peito curvo de um corpo miudo de mulher. Esse vem sendo meu aprendizado em doses diárias... aprendizado interminável e somatizante: o que importa são os afetos reais criados, os novos afetos, a partir dos quais se criam ainda mais novos afetos, a partir dos quais se reinventa a vida. As menores sutilezas de encontro que vem escancarado as maiores potências de explosão. 

Interrompo minha digreção e sigo com a exposição descritiva de alguns quadros entre eu e Santa Cecília:

- Eu me debaia ao chão na exploração laboratorial de corpos em colapso, quando avança uma moradora de rua e enfia o dedo na minha boca. Era Maria. Maria chorava. Maria disse que era como eu, que eu e ela sofríamos de uma doença que eu não me lembro o nome. Ela era delicada e bonita, apesar do desgaste da vida na rua... tinha uma doçura explicitada no tic.tac. que prendia a franja em seu cabelo. Maria me tirou do chão, me levou aos meus. Eu e ela, nós nos abraçamos por perdi conta do tempo. Maria me salvara. Ela era Diamantinha. Desde esse dia, nos falávamos sempre, irmanadas. E eis que de um quando, ela sumiu... carregada para fora do largo como muitos antes também foram, empurrada por sabe-se lá quem, para um albergue sabe-se lá aonde.



- Estava em Diamantinha afeita, um homem, também casado à rua, reza pra mim de verdade intensiva, se ajoelha e me pede a benção... como se faria com Diamantinha, me conta seus problemas; como eu fosse diamantinha, choro; como meu choro funcionasse, ele foi embora aliviado. Havia plateia. E eles estavam mudos. Nossa imagem era filmada por um dos atores, explicitando as lágrimas que apareciam simultaneamente na TV.



- Uma pomba femea moribunda que não conseguia mais voar, não conseguia mais comer, não conseguia mais beber água, não conseguia mais gorjear e mal conseguia andar, passou suas ultimas horas sendo violentada e bicada por pombos machos, jovens e saudáveis.

Fim do meu primeiro relato.

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