fotos: Verônica Fabrini.
Componho aqui um primeiro relato. Um primeiro relato que parte do primeiro conto e dos primeiros meses desse trabalho... Tenho vivido muito e materializado muito pouco em palavras... talvez os escritos abaixo pareçam um emaranhado confuso... mas sigo para por pra fora um pouco do dentro de mim.
Eu choro sempre e muito... mas oculto minha doçura e sensibilidade numa armadura macha e preparada... mundo de homens e de mulheres afeitas em homens... pois não se trata de busca de exaltar potências, mas de busca de poder e o poder oferece-se nessas condições masculinas e castradoras do sensível.
Diamantinha não, ela cura e é percebida porque expõe o peito frágil, expõe a força de qualidade uterina que é a de afetar-se... E essa mesma vem sendo a minha busca, dolorida e potente, de abrir o peito ao mundo... o peito curvo de um corpo miudo de mulher. Esse vem sendo meu aprendizado em doses diárias... aprendizado interminável e somatizante: o que importa são os afetos reais criados, os novos afetos, a partir dos quais se criam ainda mais novos afetos, a partir dos quais se reinventa a vida. As menores sutilezas de encontro que vem escancarado as maiores potências de explosão.
Interrompo minha digreção e sigo com a exposição descritiva de alguns quadros entre eu e Santa Cecília:
- Eu me debaia ao chão na exploração laboratorial de corpos em colapso, quando avança uma moradora de rua e enfia o dedo na minha boca. Era Maria. Maria chorava. Maria disse que era como eu, que eu e ela sofríamos de uma doença que eu não me lembro o nome. Ela era delicada e bonita, apesar do desgaste da vida na rua... tinha uma doçura explicitada no tic.tac. que prendia a franja em seu cabelo. Maria me tirou do chão, me levou aos meus. Eu e ela, nós nos abraçamos por perdi conta do tempo. Maria me salvara. Ela era Diamantinha. Desde esse dia, nos falávamos sempre, irmanadas. E eis que de um quando, ela sumiu... carregada para fora do largo como muitos antes também foram, empurrada por sabe-se lá quem, para um albergue sabe-se lá aonde.
- Estava em Diamantinha afeita, um homem, também casado à rua, reza pra mim de verdade intensiva, se ajoelha e me pede a benção... como se faria com Diamantinha, me conta seus problemas; como eu fosse diamantinha, choro; como meu choro funcionasse, ele foi embora aliviado. Havia plateia. E eles estavam mudos. Nossa imagem era filmada por um dos atores, explicitando as lágrimas que apareciam simultaneamente na TV.
- Uma pomba femea moribunda que não conseguia mais voar, não conseguia mais comer, não conseguia mais beber água, não conseguia mais gorjear e mal conseguia andar, passou suas ultimas horas sendo violentada e bicada por pombos machos, jovens e saudáveis.
Fim do meu primeiro relato.
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