segunda-feira, 13 de setembro de 2010

2º Mapeamento

Fomos ao Centro. À procura do centro da questão Penitenciária.

É... ainda procuramos, já sabendo que não existe um centro: já sabidos os vários.

Procuramos um lugar que fosse um fulcro nessa cidade-hidra de milicabeças. Já tão sulcada: à bala, facada e porrada, à esbarro, empurrão e impacto.

Era pra ser ali no Vale do Anhangabaú, mas o chão nos disse: - Não! E antes dessa negativa, ainda perdemos o espaço primeiramente desejado para os corpos plásticos (no sentido industrial do termo) e pintados de cowboys, índias e o melhor do folk-lore nacional.

E defronte ao Correio Central, como que inconscientemente negando sua utilidade, escrevemos para aqueles que porventura nos procurassem, um grande bilhete sobre as pedras tortas, devoradoras ávidas de giz.

“Estamos no Páteo do Colégio. Ass: Grupo do Trecho”

Desta feita nos acompanhava Flávio, um cineasta chegado a temas políticos, sociais e contra-culturais. Tínhamos a primeira experiência, dentro deste projeto, de uma interação com a linguagem audiovisual. E a possibilidade da transformação desta ação performática num pequenino curta ou numa vídeo-arte, era instigante a nós.

Brancaleonicamente, nas costas mochilas, equipamentos e etecéteras, chegamos ao segundo lugar que não nos serviu. Acho que é um dos lugares públicos mais assépticos do centro velho de São Paulo. Até constrangia escrever no chão o novo bilhete. Outro lugar daqueles com mais pombos que pessoas. Se houvesse um lixo por perto, alguém chutaria.

“Estamos em frente ao Mosteiro São Bento. Ass: Grupo do Trecho”

E voltamos pro lugar que no caminho da mudança havíamos passado e já bem pressentido: espaço amplo, chão de desenhar, fluxo humano numeroso e constante.

Eis o solo: o suporte concreto para um mapa-reflexão da Penitenciária Feminina do Butantã, Rodovia Raposo Tavares, Km 19,5.

Eis o sol: rachando o coco enquanto se montavam equipamentos e figurinos eram vestidos.

O fulcro do mapa este nós sabemos: escreve-se assim:


MULHER PRESA


Dessas duas palavras emanam as certezas sociológicas, as indagações filosóficas, as impressões artísticas e as considerações (in)humanitárias do senso comum.

Emanam em forma de linhas riscadas no chão, brancas, verdes, rosas e azuis. Pontos profanos riscados na encruzilhada redonda do Largo São Bento.

Mesmo havendo a livre circulação de “coxinhas”, a fome de indignação do Francisco, menino de velho rosto, não diminuía, só aumentava. E também por isso ele tanto escrevia, somando esse sentimento à revolta contra um governador, um prefeito e um possível novo retorno do Alckmin, figuras que dificultaram a vida do povo de rua.

E se “coxinhas” em trânsito já trazem em seu recheio a paranóia do medo, quanto mais medo paranóico não existirá naqueles que cuidam das entranhas duras e obstruídas de um presídio, seja de fachada cinza ou rosa-violeta...?

Desta vez, o nossa mapa-reflexão desaparecia rapidamente sobre os pés da paulistânia, e as presenças ausentes das mulheres que nos movem os atos de agora, menos se inscreviam na pele crostosa da cidade.


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